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A esterilidade de Sara
As estórias de Abraão, Isaque e Jacó estão repletas da forma como os antigos hebreus viam o mundo em sua volta e revelam também as inúmeras mentiras e contradições bíblicas.
Certa vez, Abraão foi comunicado por Javé, que ele ainda em idade avançada seria pai de um filho. Contudo, Abraão não acredita nessa promessa de Javé.
O estranho é que Abraão não poderia ter dúvidas quanto a isso, não porque se tratava de uma promessa do deus Jeová, mas porque seus antepassados, em idade bem mais avançada que a sua, tiveram filhos.
“Mas Sarai continuava estéril; não tinha filho.” Gênesis 11:30
“Então caiu Abraão sobre o seu rosto, e riu-se, e disse no seu coração: A um homem de cem anos há de nascer um filho? E dará à luz Sara da idade de noventa anos?” Gênesis 17:17
Veja que Abraão não está se referindo ao fato de Sara, sua esposa, ser mulher estéril, mas ao fato de ambos serem pessoas senis.
O avó de Abraão, Naor, por exemplo, teria tido filhos com mais idade que ele.
“ E viveu Naor, depois que gerou a Terá, cento e dezenove anos, e gerou filhos e filhas.
E viveu Terá setenta anos, e gerou a Abrão, a Naor, e a Harã.
E estas são as gerações de Terá: Terá gerou a Abrão, a Naor, e a Harã; e Harã gerou a Ló.” Gênesis 11: 25-27
O escritor bíblico que escreveu suas estórias e relatos por ouvir dizer, e não por inspiração divina nenhuma, esqueceu da genealogia dos parentes de Abraão. Não havia motivos para achar que era impossível ter filhos nessa idade, ele tinha exemplos dentro de sua própria casa!
Vejam agora essa passagem reveladora!
“E eram Abraão e Sara já velhos, e adiantados em idade; já a Sara havia cessado o costume das mulheres.”
“Abraão e Sara já eram velhos, de idade bem avançada, e Sara já tinha passado da idade de ter filhos.”
Por isso, Sara começou a rir-se no íntimo, dizendo: “Depois de esgotada, terei realmente prazer, sendo velho também meu senhor?”
Por isso riu consigo mesma, quando pensou: "Depois de já estar velha e meu senhor já idoso, ainda terei esse prazer? “
Jeová disse então a Abraão: “Por que foi que Sara se riu, dizendo: ‘Darei real e verdadeiramente à luz, embora eu tenha ficado velha? “ Gênesis 18: 11-13 (Almeida e TNM)
Percebam que estes versículos nos informam que a impossibilidade de Sara, em ter filhos, não está no fato de ela ser estéril, como é dito nos versos 30, do capítulo 11, de Gênesis, mas sim, por ela ter chegado a menopausa, por ela está velha. O costume das mulheres mencionado aqui se refere à menstruação, comum às mulheres ainda em idade reprodutiva. Sara deixa claro que não era estéril, mas que devido à idade avançada, teria se esgotado, ou seja, perdera sua capacidade de gerar filhos, e mais, ela aponta também que seu marido, por ser também de idade avançada, não teria como lhe dar filhos. Se a infertilidade de Sara fosse devido a sua esterilidade, nessa passagem, ela, certamente, diria: “como poderia ter prazer, se sou mulher estéril?” Contudo, ela não faz qualquer menção a sua suposta esterilidade.
Como as passagens são muito próximas, o que poderia ter ocorrido, para gerar duas informações totalmente diferentes, na realidade, é que há dois escritores presentes nos Gênesis. Um que, inicialmente, descreveu Sara como sendo estéril por nascimento, criando com isso a possibilidade do deus hebreu se mostrar poderoso; e um outro que lhe deu a esterilidade em virtude da idade avançada. Essa característica de estórias tão contraditórias dentro de um mesmo capítulo, ou em capítulos muito próximos, se repete de forma quase que constante dentro do Gênesis, para não dizer em todos os livros da bíblia. Seria muito difícil alguém escrever trechos, linhas e capítulos de uma mesma estória e cometer tantos deslizes dessa forma. Como essas estórias da bíblia teriam sido transmitidas oralmente e só depois que foram assentadas por escrito, é bem provável, que o compilador final juntou na bíblia que conhecemos hoje, relatos de duas fontes orais e/ou escritas. Mais adiante, o primeiro escritor volta a dizer que Sara é estéril, contrariando dessa forma as declarações passadas por Sara pelo segundo.
Agora essa mesma situação acontece com Jacó e Esaú. Este detinha o direito de primogenitura por ser mais velho. A bíblia conta que Jacó, embora fosse o mais novo, seria maior em riquezas e bênçãos que o mais velho.
Conta, ainda, a bíblia que em certa ocasião, Esaú chegou faminto e pediu que Jacó, seu irmão, lhe desse um pouco de cozido. Jacó oferece-lhe o cozido em troca do seu direito de primogenitura.
“ Isaque orou ao Senhor em favor de sua mulher, porque era estéril. O SENHOR respondeu à sua oração, e Rebeca, sua mulher, engravidou.
Os meninos se empurravam dentro dela, pelo que disse: "Por que está me acontecendo isso? " Foi então consultar o Senhor.
Disse-lhe o Senhor: "Duas nações estão em seu ventre, já desde as suas entranhas dois povos se separarão; um deles será mais forte que o outro, mas o mais velho servirá ao mais novo.
Respondeu-lhe Jacó: "Venda-me primeiro o seu direito de filho mais velho".
Disse Esaú: "Estou quase morrendo. De que me vale esse direito? "
Jacó, porém, insistiu: "Jure primeiro". Então ele fez um juramento, vendendo o seu direito de filho mais velho a Jacó.
Então Jacó serviu a Esaú pão com ensopado de lentilhas. Ele comeu e bebeu, levantou-se e se foi. Assim Esaú desprezou o seu direito de filho mais velho.” Gênesis 25:21-25, 31-34
O desrespeito ou desprezo por algo tido como sagrado não só foi de Esaú, mas também do próprio Jacó que não poderia se aproveitar daquela situação e querer comercializar a primogenitura de seu irmão. Veja o caráter de Jacó, vê o irmão quase morrendo de fome e em vez de ajudá-lo, quer tirar proveito do próprio irmão. Não foi Esaú que chegou oferecendo sua primogenitura em troca do bocado, mas, Jacó.
E essa deslealdade de Jacó para com seu irmão, Esaú, não é repreendida por Jeová que viu isso e não fez nada, no entanto, considerou aquele comércio ilegítimo como legal, sob o pretexto de que aquela situação estava cumprindo suas palavras proféticas. Um absurdo!
Mais tarde, Isaque, já idoso; Rebeca e seu filho Jacó se juntam para ludibriá-lo e obter dele a bênção que era por direito de Esaú.
Aqui já notamos a grande falha da estória. Que falha? Esta que passo agora explicar.
Jacó ao comprar o direito de primogenitura de seu irmão, supostamente, teria também adquirido todos os direitos advindos dela. O que incluía receber a bênção que ele roubou de seu pai, Isaque. Porém, quem concederia essa bênção seria seu pai. Para que houvesse alguma validade a trapaça de Jacó com o direito de primogenitura de Esaú, Isaque teria de ter conhecimento dessa ilegalidade e aprová-la, só assim, Jacó poderia reivindicá-la como direito seu.
Entretanto, não vimos isso acontecer, Isaque não ficou sabendo de nada disso, quer dizer, não serviu de nada todo aquele teatro de trocar comida por direito de primogênito, porque Jacó teve que se passar, mais tarde, por Esaú, para obter a tão desejada bênção, mas isso ele poderia fazer sem necessidade de comprar a primogenitura de seu irmão. Um homem que mente desse jeito para o velho pai daquele jeito, o que se poderia esperar do caráter dele?
Jacó consegue a bênção, e Esaú ao descobrir que Jacó o enganara por duas vezes, o procura, a fim de matá-lo, assim que terminado o luto por Isaque.
“ Ouça, pois, o que lhe digo, meu filho: Fuja imediatamente para a casa de meu irmão Labão, em Harã.
Fique com ele algum tempo, até que passe o furor de seu irmão.
Quando seu irmão não estiver mais irado contra você e esquecer o que você lhe fez, mandarei buscá-lo. Por que perderia eu vocês dois num só dia? " Gênesis 27:43-45
No capítulo 27 é dito que a mãe de Jacó ao saber que Esaú tinha intenção de matá-lo, o aconselha que fuja de imediato para casa de seu irmão, Labão em Harã, até que Esaú se acalmasse e esquecesse o que Jacó lhe havia feito. Notem, quão aflita e preocupada está Rebeca, com a situação!
Todavia, quando lemos o capítulo seguinte, ou seja, o 28, vemos que outro foi o motivo. Vejam: ”E Isaque chamou a Jacó, e abençoou-o, e ordenou-lhe, e disse-lhe: Não tomes mulher de entre as filhas de Canaã;
Levanta-te, vai a Padã-Arã, à casa de Betuel, pai de tua mãe, e toma de lá uma mulher das filhas de Labão, irmão de tua mãe; “ Gênesis 28:1,2
Há, entre os capítulos 27 e 28, uma nítida divergência quanto aos motivos da partida de Jacó da casa(tenda) de seus pais.
Alguns poderiam dizer que não há nenhuma divergência, porque Rebeca teria se aproveitado que Esaú havia se casado com mulheres cananeias e recomendou que Isaque pedisse a Jacó não fizesse o mesmo. Assim, Jacó teria, portanto, fugido não só para escapar de Esaú, mas também para encontrar uma esposa dentre os familiares de sua mãe, Rebeca.
A tentativa de se eliminar a contradição é até boa, mas não convence! Não convence porque Rebeca mostra-se extremamente preocupada, suas palavras “fuja imediatamente meu filho” não deixa dúvida de que não se podia perder mais tempo, Jacó teria que fugir o mais rápido possível. O tempo estava contra ele!
E mais a ida de Jacó teria ocorrido às vistas de Esaú sem qualquer resistência deste à sua partida, o que contraria frontalmente o porquê da preocupação de Rebeca.
“Esaú viu que Isaque tinha abençoado Jacó e o tinha enviado a Padã-Arã, para que ele tomasse de lá uma esposa, e que, ao abençoá-lo, lhe havia ordenado: “Não tome uma esposa dentre as filhas de Canaã”; viu também que Jacó obedeceu ao seu pai e à sua mãe e partiu para Padã-Arã. “ Gênesis 28:6,7
Isso só prova o que temos afirmado aqui e em outros artigos que os relatos de Gênesis contêm duas ou mais fontes de informações(tradições e folclore) que foram reunidas em um determinado momento e assentadas em um só registro, por um escriba ou sacerdote.
Há um escritor ou uma fonte que dizia que Jacó teria fugido; já outra, que ele teria saído a mando de seus pais em busca de uma esposa dentre o povo de sua mãe. Não se esqueça de que essas fontes eram relatos falados(fontes orais) que foram passados de geração em geração. Com o tempo, essas informações orais, passando de uma geração a outra, produziram duas ou mais fontes com conteúdos diferentes, divergentes e/ou mesmo similares em um ou outro aspecto. Algo que ocorre, com muita frequência, em nossos dias. Dificilmente, uma informação que é passada de boca em boca, chegará a um destinatário final da mesma forma e com o mesmo conteúdo, que saiu do primeiro interlocutor.
“Jacó ficou aflito e com muito medo, de modo que dividiu em dois grupos o povo que estava com ele, bem como as ovelhas, os bois e os camelos. Ele disse: “Se Esaú atacar um grupo, o outro grupo poderá escapar.” Gênesis 32:7-8
“Devem dizer também: ‘Seu servo Jacó está vindo atrás de nós.’” Pois dizia a si mesmo: ‘Se eu o acalmar mandando um presente antes de mim, ele talvez me receba bem quando eu o encontrar depois.’ De modo que o presente foi enviado à frente dele, mas ele mesmo passou a noite no acampamento.” Gênesis 32:20-21
“ Depois Deus disse a Jacó: “Vá, suba a Betel e more ali, e faça ali um altar ao verdadeiro Deus, que lhe apareceu quando você estava fugindo de Esaú, seu irmão.” Gênesis 35:1
Os textos não deixam dúvidas de que Jacó saiu da casa de seu pai fugido. Não foi nada de forma pacífica e às claras, mas tudo se deu de forma rápida e às escondidas. E, finalmente, temos a declaração do deus da bíblia”quando você estava fugindo de Esaú, seu irmão.” que põe um ponto final. Sim, há dois relatos diferentes que apontam motivos diversos para que Jacó fugisse.
Para finalizarmos, gostaria de mostrar mais duas incoerências. Uma se refere ao rei Abimeleque, esse rei já era conhecido de Abraão que morreu aos 175 anos. Esse rei pagão viveu bem mais tempo que Abraão, o amigo de Deus. Todo o contexto da estória desse rei é igualzinho ao da que ocorreu com Abraão. Isaque também inventa que é irmão de Rebeca, o rei descobre essa mentira e em seguida dar enormes quantidades de bens a Isaque. Quer dizer, tal estória do pai, tal estória do filho.
O rei Abimeleque é um verdadeiro otário que além de ser passado a perna por Abraão, também mais tarde, Isaque faz o mesmo com ele. E o rei leva tudo numa boa. Abraão e depois Isaque mentem e quem paga a conta em dinheiro, é o pobre, aliás, o riquíssimo rei. Só criança pra acreditar numa estorinha dessa!
“ Quando Isaque já era idoso e seus olhos estavam fracos demais para enxergar, ele chamou Esaú, seu filho mais velho, e disse-lhe: “Meu filho!” Ele respondeu: “Estou aqui!” E Isaque disse: “Já estou velho. Não sei o dia da minha morte. Gênesis 27:1,2
Essa é a outra incoerência que havia mencionado. É incoerente porque é falado que Isaque estava à beira da morte a ponto de chamar seu filho mais velho, Esaú, para conceder-lhe a bênção de primogênito. Isaque, nessa ocasião, estava com cerca de 100 anos de idade e confessa que sua morte é iminente. Para os padrões atuais, ele era um verdadeiro moribundo. Disse ele: “Não sei o dia da minha morte”. Só que o velhinho estava fingindo, pelo visto, porque depois disso, ele ainda teria vivido mais 80 anos. É, Isaque morreu aos 180 anos! Esse fato contraria a situação inicialmente apontada em que ele nem enxergava e nem conseguia distinguir as vozes de seus filhos, Esaú e Jacó! Talvez digam que ele ganhou uma sobrevida do deus hebreu.
“... Isaque tinham morado como estrangeiros. Isaque viveu 180 anos. Então Isaque deu seu último suspiro e morreu, e foi reunido ao seu povo, depois de uma vida longa e satisfatória; e seus filhos, Esaú e Jacó, o enterraram.” Gênesis 35:28-29
Aqui se fala que Isaque teve uma vida satisfatória como se um homem aos 100 anos que se encontrava cego, quase surdo e acamado poderia chegar aos 180 anos e dizer que viveu dessa forma.
A bíblia ora diz que homens com mais de 100 anos têm vigor de um rapaz de 20 anos, a ponto de ser um verdadeiro garanhão italiano, ora homens de mesma idade parecem tão debilitados quanto os de nosso tempo.
Volto a lembrá-los de que na bíblia há incoerências e contradições.
Milhões de pessoas pelo mundo acreditam nas estórias desse livro. Um livro em que seus principais personagens são tão pecadores quanto aos próprios pecadores da terra de Canaã, que seu deus “santo” pretendeu destruir. Esses homens, escolhidos do deus hebreu, eram mentirosos, ladrões, assassinos e sem caráter.
As supostas riquezas de Abraão, Isaque e Jacó foram fruto de fraudes e muitas mentiras. E, no meio delas estava o deus bíblico!
Era por meio de mentiras, fraudes e deslealdades que Jeová abençoava seus servos.
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