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A farsa do dilúvio e o deus que se arrepende
Parte I
Ah! Como eu gostava dessa história, meus olhos se enchiam de lágrimas, quando minha professora de catecismo a contava com toda aquela dramatização para mim. Parecia-me tão real e vívida. Estava com meus 10 anos, ainda me lembro como se fosse hoje, como eu a adorava. Pra mim, era tudo tão mágico. Saudades!
Infelizmente, cresci, e, por algum motivo, descobri que aquela estória, não era história, mas apenas estória.
Aquilo não era real, mas um conto como os que nossos pais nos contavam para que pudéssemos dormir. Em todo caso, para mim, foi um baque daqueles. Descobri que havia sido enganado desde quando era criança.
Hoje vou contar pra vocês as mentiras e os faz de conta dessa estória bíblica tão bem conhecida pelo mundo afora.
Não me preocupei em mostrar-lhes aquelas questões repetitivas que aparecem sempre na internet sobre o dilúvio. Sobretudo, a que envolve a impossibilidade de se levar todas as espécies de animais do mundo para o interior de uma pequena arca, bem como a de espécies específicas de determinada região.
Não, o que trago é uma análise mais profunda, creio eu, sobre o tema.
Vejamos como o nosso já conhecido escritor de Gênesis nos apresenta os fatos dessa não mais fascinante estória.
“ Lameque viveu 182 anos e então se tornou pai de um filho. Deu a ele o nome de Noé, dizendo: “Este nos trará consolo, aliviando-nos do nosso trabalho e do esforço doloroso das nossas mãos, causados pelo solo que Jeová amaldiçoou.” Depois de se tornar pai de Noé, Lameque viveu 595 anos. E ele se tornou pai de filhos e de filhas. De modo que todos os dias de Lameque somaram 777 anos, e então ele morreu.” Gênesis 5:28-31
Aqui a principal personagem da estória aparece, Noé cujo pai se chamava Lameque e que após o nascimento daquele, teve muitos filhos e filhas. Noé teria nascido em um período em que a maldade dos homens na terra teria aumentado muito do ponto de vista de Deus. Quer dizer, Deus tem um termômetro em que é medido até onde nossa maldade pode chegar.
“Assim, Jeová viu que a maldade do homem era grande na terra e viu que toda inclinação dos pensamentos do seu coração era só má, todo o tempo. Jeová lamentou ter feito os homens na terra, e seu coração se entristeceu. De modo que Jeová disse: “Vou eliminar da face da terra os homens que criei, o homem junto com os animais domésticos, os animais rasteiros e as criaturas voadoras dos céus, pois lamento tê-los feito.” Gênesis 6:5-8
Esse alto nível de maldade, segundo o pensamento de alguns, teria como origem supostos anjos encarnados ou materializados, que teriam descido do céu, para transar com as filhas dos homens, por estas serem muito belas a ponto de chamar a atenção até dos anjos de Deus.
Assim, o deus da bíblia, como qualquer pessoa de bom censo, ao identificar o problema, resolve eliminá-lo. Acabar o mal pela raiz! Nada de mais lógico nisso!
Agora, o grande problema dessa atitude do todo-poderoso e onisciente Deus é que como ele mesmo percebeu, a fonte da maldade estava nos homens e nos famosos nefilins(os filhos dos supostos anjos) e não nos animais e na própria terra. Outro fato também estranho nessa estória é que Jeová, já deveria saber que isso aconteceria, primeiro porque ele é onisciente; segundo, porque foi ele mesmo que tornou os descendentes de Adão, pecadores, eles não gozavam mais da perfeição e nem de uma relação harmoniosa com Ele. O que se poderia esperar a partir da expulsão do Éden senão não uma situação de desordem moral cada vez maior?
Bem, Deus já estava decidido. Não tinha mais volta. “Além disso, o Glorioso de Israel não deixará de cumprir a sua palavra nem mudará de ideia, pois Ele não é um homem para mudar de ideia.” 1 Samuel 15:29
Vamos entrar numa área que causa muita polêmica agora – o arrependimento de Deus.
Segundo a bíblia, Jeová não mente(?).”Deus não é homem para mentir, nem filho da humanidade para ter lástima. Foi ele mesmo quem o disse, e não o fará? E falou ele, e não o cumprirá?” Núm. 23:19.
O arrependimento de Deus, segundo todos os crentes, seria diferente do dos homens. Há duas palavras no velho e no novo testamento para arrependimento. Arrepender-se para os homens estaria ligado mais ao pecado e como Deus não peca, não haveria como ele se arrepender, ter que voltar atrás, ter remorso, mudar de atitude. O arrependimento dos homens, portanto, seria um ato de Deus para com os homens. Já o arrependimento de Deus não é uma mudança de seu ser, de seu estado psicológico, mas uma mudança em sua relação e/ou trato com os homens. Estas são as explicações mais comuns que ouvimos entre os que defendem a imutabilidade de Deus no que se refere a voltar a trás devido a ter se arrependido.
Mas, pode ter certeza, isso é conversa. Os crentes como sempre querem mitigar esse grande problema da personalidade de Elhoim(Deus) presente nos escritos bíblicos.
Um livro cheio de falhas como é a bíblia não se pode esperar algo diferente.
O arrependimento de Deus só vem se manifestar agora, depois de tanto tempo, diante da maldade dos filhos de Adão. Quando Adão se desviou, não vimos nenhum arrependimento de Deus nesse sentido. Por que Deus também não mudou sua maneira ou trato com Adão? E se o arrependimento de Deus é a mudança de trato com os homens, então por que no caso do dilúvio envolveu os animais e a terra?
O momento de Ele agir era aquele, e não esperar que a maldade se alastrasse. Vejam que no caso do dilúvio, Deus havia detectado o problema( a maldade altíssima), viu que não tinha mais jeito(pois, o homem era mau desde a mocidade) e resolveu eliminá-lo. Não tem nada de diferente, nesse caso, que não nos leve a concluir que essa atitude de Deus não seja entendida como arrependimento, não por pecado, é lógico, na concepção dos crentes, mas sim, por algo que fora feito e que precisava ser corrigido. Não foi por nada que Ele viu na pessoa de Noé a solução do problema. Começar tudo de novo, essa foi a solução encontrada pelo deus da bíblia.
“Nunca mais amaldiçoarei o solo por causa do homem, pois a inclinação do coração do homem é má desde a sua juventude; e nunca mais destruirei todos os seres vivos assim como fiz.” Gênesis 8:20-21
Aqui está a demostração de alguém que está arrependido por algo que fez. Deus, depois de destruir toda a raça humana, salvo Noé e sua família e alguns(milhares) de animais, reconhece que não deveria ter trazido o dilúvio, para destruir o homem, porque não adiantou, já que sua inclinação natural era má. Isso é sim, mudança de atitude, Jeová concluiu, depois do ato já praticado, a sua desnecessidade ou ineficiência de tê-lo praticado. Se eu digo que nunca mais vou fazer algo novamente, é porque esse algo nunca deveria ter sido feito por mim.
“ Mas Noé achou favor aos olhos de Jeová.” Gênesis 6:9
Noé contando com 500 anos de idade, tem 3 filhos chamados Sem, Cã e Jafé. Sem é seu filho mais velho. Este teria cerca de 98 anos, quando veio o dilúvio, enquanto seu pai 600. Gênesis 5:32; 10:21 e 11:10
“E era Noé da idade de seiscentos anos, quando o dilúvio das águas veio sobre a terra.” Gênesis 7:6
Contrariamente ao que é afirmado pelos crentes, Noé não pregou coisa nenhuma para seus contemporâneos. Embora haja textos bíblicos no novo testamento que dão a entender isso e o relato de Flávio Josefo, em Antiguidades Judaicas, que diz que houve uma pregação da parte de Noé. 2 Pedro 2:5; Mateus 24:38-39 e Hebreus 11:7
O texto hebraico não diz isso, pelo contrário, afirma que Deus viu a inclinação dos pensamentos do homem e que a mesma era má desde a sua tenra idade. Se as pessoas já eram inclinadas para o mal, consoante o texto bíblico, para que haveria necessidade de se pregar alguma coisa. Jeová já havia sentenciado o destino daquela geração, isso fica claro, no texto de Gênesis. E, em contraste com a inclinação dos daquela geração, surge Noé como homem justo e perfeito no meio deles.
Os habitantes das cidades de Sodoma e Gomorra também estavam em um estado de perversidade moral e talvez até em situação melhor que os contemporâneos de Noé, pois em seu caso, há, ainda, os que creem, que havia descendentes de anjos, os nefilins envolvidos. Sim, os habitantes dessas duas cidades não tiveram chance nenhuma para arrependimento, os anjos que foram enviados executaram a sentença direta do deus bíblico. Mesmo Ló morando entre eles, e sendo este justo, não houve nenhuma mensagem de arrependimento por parte dele. Na época de Noé, havia 8 pessoas tidas como justas, já, na de Ló, só havia 4, sendo uma, transformada em estátua de sal. Abraão em conversa com Jeová antes de haver a destruição de Sodoma e Gomorra, O havia indagado, por diversas vezes, se Este destruiria o justo com o injusto naquelas cidades. Jeová, por fim, diz que se houvesse pelo menos 10 justos nelas, não as destruiria. Gênesis 18:23-33
Então, Jeová disse: “ Meu espírito não terá tolerância com o homem indefinidamente, pois ele é apenas carne. Portanto, seus dias somarão 120 anos. “ Gênesis 6:3
O texto acima é usado por muitos para afirmar que a idade dos homens se reduziria a 120 anos, contudo, isso também não é verdade, porque Noé recebeu a ordem de Jeová, para construir a arca, quando já tinha 600 anos e o dilúvio foi até os 601 anos de vida de Noé. E quando olhamos a genealogia que se seguiu após o nascimento dos descendentes dos filhos de Noé, não constatamos essa redução em suas idades, mas muito pelo contrário, eles continuaram a ter longos anos de vida. E se considerarmos que o anúncio do dilúvio se deu em anos anteriores a idade de 600 anos de Noé, aí é que não se chega a esse número de 120 anos. Já outros pensam que 120 anos foi o tempo que se gastou na construção da arca e da pregação de Noé. Essa maluquice já descartamos ante os argumentos acima apresentados.
Na realidade, o nosso escritor, como já havia dito em outros artigos, contrariando as outras vezes em que fez muitas besteiras no seu enredo, deu uma de esperto, dessa vez.
Notem que na genealogia desde Sete, filho de Adão até a de Lameque, pai de Noé, ele sempre mencionava a expressão “E ele se tornou pai de filhos e de filhas”, porém, quando chega a de Noé, agora, ele sutilmente a exclui, mas somente diz que ele teve 3 filhos.
Por que será que isso aconteceu?
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