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O Diabo realmente existe
Muitos cristãos, pelo mundo afora, atribuem todas as maldades que assolam a humanidade a um ser invisível e perverso. A Bíblia, em sua parte cristã, o identifica como sendo Satanás ou Diabo.
O que devemos saber, contudo, antes de mais nada, que tanto a palavra diabo quanto satanás não seriam nomes que poderiam ser atribuídos a alguém. A palavra diabo, no grego, significa acusador ou caluniador; já satanás, no hebraico, seria adversário ou opositor. Desse modo, vemos que essas palavras não se constituem em nomes próprios. Qualquer pessoa poderia ser chamada de diabo ou satanás em um diálogo com um hebreu ou grego.
A tradição cristã ensina que o Diabo ou Satanás teria sido, no princípio, um anjo poderosíssimo das hostes celestiais do deus bíblico, Javé (Jeová). Mas, com o tempo, este anjo da classe dos querubins teria se desviado da justiça e do caminho da retidão, e se rebelado contra seu Criador, querendo para si a adoração que deveria ser prestada a Deus.
O querubim que virou o Diabo ou Satanás passou a ser representado por esta tradição como tendo chifres, um tridente nas mãos e de cor, ora vermelha (representativa do pecado), ora negra(representativa da perdição, ou da ausência da luz). Todos esses acessórios teriam sido tomados de alguns personagens da mitologia grega. O tridente viria de Poseidon( deus do mar), os chifres de Baco(deus da festividade), seu lugar de morada, o inferno(Hades).
A grande maioria dos personagens e festas da tradição cristã vieram das mitologias egípcia, grega, romana e até oriental. Os cristãos, sobretudo, os pais da Igreja, teriam apenas feito algumas modificações e adaptações.
São Jerônimo, ao traduzir a antiga versão da Bíblia cristã a mando do papa Dâmus, no século IV, da era cristã, para a famosa Vulgata Latina, teria introduzido essas primeiras impressões.
Um outro nome que é dado ao anjo decaído é Lúcifer. A tradução para palavra vem do hebraico e fora vertida para a Vulgata, por São Jerônimo, como se fosse um nome pertencente a um ser, entretanto, “lúcifer” significa portador de luz, iluminado, aurora e estrela d’alva.
Prova disso é que há até um cântico em latim muito antigo chamado Exsultet que diz:"Flammas eius lucifer matutinus inveniat Ille, inquam, lucifer, qui nescit occasum Christus Filius tuus, qui, regressus ab inferis, humano generi serenus illuxit, et vivit et regnat in saecula saeculorum. Amen."
Sua tradução é: "Que ele (o círio pascal) brilhe ainda quando se levantar o astro da manhã, aquele astro que não tem ocaso, Jesus Cristo, vosso Filho, que, ressuscitando dentre os mortos, iluminou o gênero humano com a sua luz e a sua paz e vive glorioso pelos séculos dos séculos. Amém.
Lúcifer também foi usada para se referir a Jesus como vemos acima e no livro de Jó, a palavra "lucifer" (Jó 11:17), é traduzida por "alva" na própria versão de João Ferreira de Almeida. Nas Escrituras Gregas, o apóstolo Pedro, ao fazer referência à voz de Deus confirmando, assim, a missão de Jesus, pede que se mantenham firmes as palavras da profecia, "donec dies illucescat, et lucifer oriatur in cordibus vestris – até clarear o dia e levantar-se a estrela da manhã em vossos corações" (2 Pd 1: 19). Por tudo isso, vemos que Lúcifer não é nome coisa nenhuma de anjo demoníaco. O que houve, de fato, foi que alguns pais da Igreja quis dar uma interpretação aos textos presentes das escrituras hebraicas diversa da original, com o objetivo de subjugar massas, por meio do medo. Quiseram, na realidade, dar vida a um ser que não estava presente nas escrituras hebraicas e nem nas mentes dos primitivos hebreus, quando as escreveram originalmente.
Há textos nas intituladas escrituras hebraicas que muitos entendem ser referências claras ao suposto Satanás. No entanto, já vimos que esse ser não existe.
Vejamos, pois, esses textos. O mais citado é Ezequiel, capítulo 28, vou destacar os principais versículos que nos ajudarão a entender que tudo não passa de uma má interpretação por alguns, e de uma forçação por parte de outros.
“E veio a mim a palavra do SENHOR, dizendo:
Filho do homem, dize ao príncipe de Tiro: Assim diz o Senhor DEUS: Porquanto o teu coração se elevou e disseste: Eu sou Deus, sobre a cadeira de Deus me assento no meio dos mares; e não passas de homem, e não és Deus, ainda que estimas o teu coração como se fora o coração de Deus;
Filho do homem, levanta uma lamentação sobre o rei de Tiro, e dize-lhe: Assim diz o Senhor DEUS: Tu eras o selo da medida, cheio de sabedoria e perfeito em formosura.
Estiveste no Éden, jardim de Deus; ... no dia em que foste criado foram preparados.
Tu eras o querubim, ungido para cobrir, e te estabeleci; no monte santo de Deus estavas, no meio das pedras afogueadas andavas.
Perfeito eras nos teus caminhos, desde o dia em que foste criado, até que se achou iniqüidade em ti.
Na multiplicação do teu comércio encheram o teu interior de violência, e pecaste; por isso te lancei, profanado, do monte de Deus, e te fiz perecer, ó querubim cobridor, do meio das pedras afogueadas.
Elevou-se o teu coração por causa da tua formosura, corrompeste a tua sabedoria por causa do teu resplendor; por terra te lancei, diante dos reis te pus, para que olhem para ti.
Ezequiel 28:16,17
Perceba que o filho do homem é o profeta Ezequiel que teria de se dirigir ao rei da cidade de Tiro e falar-lhe as palavras acima. A passagem é clara, o querubim mencionado não é nada de uma criatura espiritual. Ele é apenas um homem, ou melhor, o rei de Tiro. O texto diz que o rei devido a sua posição elevada, em termos de riquezas, começou a se achar Deus, porém, ele não era Deus. Ele era um homem(e não passas de homem, e não és Deus). A passagem ainda nos diz que esse querubim se assentou no trono(cadeira) de Deus. Só que essa cadeira se encontra no meio dos mares. Os que querem colocar o Diabo nessa passagem, esquecem que o trono de Deus não poderia estar no meio dos mares. Essa é uma referência à posição geográfica de Tiro. Os homens poderiam ver esse querubim, o Diabo, por ser criatura espiritual não poderia ser visto.
O pecado cometido por esse querubim foi por se achar Deus, quando não era; segundo, as multiplicações do comércio realizado por esse querubim fizeram com que aumentasse sua violência. Logo esse querubim não poderia ser o temível Diabo. O diabo não pratica comércio, troca de mercadorias com as pessoas. E mais, a sua formosura e beleza o teriam corrompido, no entanto, essas características não seriam suficientes para fazer uma criatura das hostes celestiais, dentre os querubins, se desviar, porque ele seria um no meio de tantos outros com esses mesmos atributos, e além disso, os querubins, são a segunda classe em termos de hierarquia, sequer era um serafim.
Alguns argumentam, mas ali fala que o querubim estava no Éden, jardim de Deus e que era perfeito. É verdade, contudo, os mais apressadinhos, também se esquecem de voltar ao capítulo 27 do mesmo livro. Vejam:
“E dize a Tiro, que habita nas entradas do mar, e negocia com os povos em muitas ilhas: Assim diz o Senhor Deus: Ó Tiro, tu dizes: Eu sou perfeita em formosura.
No coração dos mares estão os teus termos; os que te edificaram aperfeiçoaram a tua formosura.
Ezequiel 27:3,4
Os versículos acima mostram a localização da cidade de Tiro e nos revelam onde ficaria o trono de Deus e que a cidade se considerava perfeita. Historicamente, sabemos que os fenícios se tornaram verdadeiros comerciantes marítimos e que, por isso, se tronaram muito ricos e prósperos.
Daí o motivo de o profeta, Ezequiel, representar figurativamente e poeticamente a cidade de Tiro como que sendo perfeita, cujo rei tinha as características de um querubim ungido reluzente.
“Társis negociava contigo, por causa da abundância de toda a casta de riquezas; com prata, ferro, estanho e chumbo, negociavam em tuas feiras.
Javã, Tubal e Meseque eram teus mercadores; em troca das tuas mercadorias davam pessoas de homens e objetos de bronze.
Ezequiel 27:12,13
Harã, e Cane e Éden, os mercadores de Sabá, Assur e Quilmade negociavam contigo. Estes eram teus mercadores em roupas escolhidas ...
Ezequiel 27:23,24
Os versículos 12-24 do capítulo 27, de Ezequiel, nos revelam quais eram as cidades com as quias a cidade perfeita, Tiro, cujo rei era um verdadeiro Querubim, comercializava seus produtos. E vejam só, há entre elas uma cidade chamada de Éden. Quer dizer, a referência que Ezequiel faz do Éden é a essa cidade e não literalmente ao Éden original. Pelo que tudo indica, essa cidade, Éden, assim como Tiro era muito formosa, linda, daí o motivo de receber o nome do lendário jardim do Éden e a devida referência ao suposto jardim de Deus, por Ezequiel.
Outro muito citado livro para provar a existência do anjo mal é o de Isaías 14:12:
“Como caíste desde o céu, ó Lúcifer, filho da alva! Como foste cortado por terra, tu que debilitavas as nações!
E tu dizias no teu coração: Eu subirei ao céu, acima das estrelas de Deus exaltarei o meu trono, e no monte da congregação me assentarei, aos lados do norte.
Subirei sobre as alturas das nuvens, e serei semelhante ao Altíssimo.
Isaías 14:12-14
De novo aqui são cometidos os mesmos erros de interpretação que ocorrem no caso de Ezequiel. Os versículos agora se referem a Nabucodonosor. O verso 4, desse mesmo capítulo, não nos deixa mentir: “ Então proferirás este provérbio contra o rei de babilônia, e dirás: Como já cessou o opressor, como já cessou a cidade dourada!
Novamente, o texto esclarece que não se trata de nenhum ser espiritual maligno, mas tão somente de um homem que da mesma forma que o rei de Tiro, achou que era Deus por causa de sua riqueza e opulência. ” Os que te virem te contemplarão, considerar-te-ão, e dirão: É este o homem que fazia estremecer a terra e que fazia tremer os reinos?”
Este que subiu acima das estrelas de deus, podia ser visto e era homem. Portanto, percebemos, ,claramente, que não há nenhuma evidência de que se trate do diabo, essa passagem dos Salmos.
Por último, um outro livro, não menos importante e bastante utilizado, por muitos, para provar a existência do Diabo, é o de Jó. Contudo, não vou tecer comentários sobre ele, pois, fiz um artigo em que comento os reais motivos do aparecimento e da verdadeira concepção do Diabo ali e como os hebreus o introduziram em suas crenças.
Por que a necessidade de querer a todo custo que um ser invisível e maléfico exista?
Manter o controle das grandes massas por meio do medo era o motivo de se querer isso. Quer controlar alguém, o amedronte. Essa é uma tática velha e ainda hoje muito eficiente.
A Igreja Católica e os Protestantes, em geral, eram mestres nessa tática. O controle pelo medo!
E há também o fato de que em cima desse suposto Diabo estão as bases da fé cristã, sem a existência desse ser, não há Deus, Jesus, paraíso, inferno, vida pós-morte tampouco as corriqueiras e sem sentido explicações da existência do mal.
Matar o diabo é o mesmo que matar a Deus e a Jesus. Matá-lo é nos privar do paraíso de deleites. Se o diabo morre, morre com ele Deus. Na crença cristã, não pode haver Deus sem o diabo. Ele é a razão primeira da existência de Deus. Matar o Diabo é neutralizar ou destruir tudo aquilo que supostamente fora ensinado e pregado por Jesus. Seria o mesmo que tirar Jesus da cruz ou do madeiro e nos tornarmos novamente pecadores e condenados à perdição eterna.
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