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PARTE 6
O sacrifício de Jesus e sua discrepância com a Lei
Por tudo que foi dito e demonstrado até aqui, dizer que Jesus seria o cordeiro de Deus que tiraria os pecados das pessoas, não é verdade!
Primeiro, nunca que os pecados tipificados na Lei judaica guardaram relação com o pecado dito original(pecados herdados de Adão e Eva). Era a lei que dizia o que era pecado. Tanto é verdade que a palavra para pecado no idioma hebreu, quando traduzido para o nosso idioma significa “não atingir o alvo”. E quem dizia qual o alvo a ser atingido? Simplesmente a Lei. Era ela o apontador, a agulha de uma bússola, por assim dizer.
Foi por isso que Paulo em Romanos disse que se não fosse a Lei, não saberia o que era pecado. E se não houvesse a Lei, ele não poderia ser considerado pecador, porque sem Lei, o pecado não existe.
“Mas eu não conheci o pecado senão pela lei; porque eu não conheceria a concupiscência, se a lei não dissesse: Não cobiçarás. Mas o pecado, tomando ocasião pelo mandamento, operou em mim toda a concupiscência; porquanto sem a lei estava morto o pecado. E eu, nalgum tempo, vivia sem lei, mas, vindo o mandamento, reviveu o pecado, e eu morri.” Romanos 7:7-9
O que era considerado pecado estava na Lei. Paulo ainda chama a Lei de tutor, ou seja, aquele que conduz a vida de outrem que por algum motivo encontra-se impedido para tanto.
“pois antes de ser dada a lei, o pecado já estava no mundo. Mas o pecado não é levado em conta quando não existe lei.” Romanos 5:13
Essa afirmação de Paulo está equivocada, pois se não havia Lei não poderia haver pecado. Pecado é a violação da Lei, a transgressão de um código de condutas, como alguém poderia violar algo ainda inexistente? E ele mesmo já havia afirmado isso!
Segundo, os animais usados nos sacrifícios não se tornavam pecadores em lugar das pessoas. Eles apenas expiavam com seu sangue os pecados delas. Eles apenas recebiam em lugar das pessoas que pecavam, quer dizer, violavam algum preceito estipulado na lei de Moisés, o castigo que lhes devia ser imposto pela divindade Jeová.
A Lei dizia que a alma que pecasse, ela é que morreria, portanto, para que uma pessoa não morresse por ter cometido uma falha tipificada na Lei, matava-se em seu lugar um animal considerado puro segundo o que a própria Lei dizia. É bom que se saiba também que essa regra dificilmente era observada pelo deus hebreu, pois o vemos matando ou condenando filhos com seus pais, sendo que foram estes que teriam cometido alguma falha ao invés daqueles.
“A alma que pecar, essa morrerá; o filho não levará a iniquidade do pai, nem o pai levará a iniquidade do filho. A justiça do justo ficará sobre ele e a impiedade do ímpio cairá sobre ele.” Ezequiel 18:20
Note que o fragmento deixa claro que a pessoa que pecar, portanto, ninguém nascia pecador, mas se tornava um, quando deixava de cumprir com alguma diretriz ou norma contida na Lei. Ainda, explica o texto, o pecado do pai será suportado por ele mesmo, assim como o do filho será por ele suportado, isto é, cada um responderia pelas próprias violações que as cometesse, consoante o que dispusesse a Lei.
Não há nada de pecado herdado por Adão e Eva, isso é tudo invenção dos escritores cristãos.
Terceiro, o holocausto era oferecido diante de um altar sagrado e não numa cruz ou madeiro. O sacrifício não poderia ser feito em qualquer lugar, se ocorre, tal sacrifício seria invalidado.
Quarto, o animal nunca que se tornava maldito ao ser sacrificado, já que se pretendia agraciar o deus hebreu. E oferecer algo maldito não seria nada sábio da parte do pecador. O animal ofertado era considerado sem pecado e sem falhas, durante todo o ritual sacrificial.
“A carne, porém, com sua vida, isto é, com seu sangue, não comereis.
Certamente requererei o vosso sangue, o sangue das vossas vidas; da mão de todo o animal o requererei; como também da mão do homem, e da mão do irmão de cada um requererei a vida do homem. Quem derramar o sangue do homem, pelo homem o seu sangue será derramado; porque Deus fez o homem conforme a sua imagem. Mas vós frutificai.” Gênesis 9:4-7
“E oferecerás os teus holocaustos, a carne e o sangue sobre o altar do Senhor teu Deus; e o sangue dos teus sacrifícios se derramará sobre o altar do Senhor teu Deus; porém a carne comerás.” Deuteronômio 12:27
“Guarda-te, que não ofereças os teus holocaustos em todo o lugar que vires; Mas no lugar que o Senhor escolher numa das tuas tribos ali oferecerás os teus holocaustos, e ali farás tudo o que te ordeno.” Deuteronômio 12:13,14
Como o sangue aparentemente é mantenedor da vida, nos tempos de há muito, era visto pelas pessoas como algo sagrado, aliás, até hoje o vemos como sagrado em algumas comunidades. Por isso, ao se sacrificar um animal, se derramava o sangue sobre pessoas ou sobre coisas com o objetivo de purificá-los.
“Esparge-me com o sangue purificador e ficarei de novo limpo. Lava-me e serei mais branco do que a neve.” Salmos 51:7
Os hebreus pensavam que a vida estava no sangue, mas isso não é verdade, ele, por ser o condutor de substâncias importantes para os bilhões de células de nosso corpo, mantém a continuidade da vida.
O sangue servia como um óleo santo. Ele transferia sua pureza e santidade quando aspergido sobre algo ou alguém na mente primitiva do hebreu.
A santidade do sangue no meio hebreu residia no fato de que esse líquido era visto como uma iguaria ou manjar delicioso aos olhos de seus deuses. Era algo que o alimentava ainda que de forma figurada. Ao ver o sangue derramado e queimado, o deus hebreu se sentia bem, era como se ele o tivesse bebido literalmente!
Ao se sacrificar um animal se estava tirando uma vida para poupar uma outra. A lei primitiva dos hebreus exigia que toda violação grave a ela deveria ser punida com a vida. Vida por vida!
Sem sangue não havia expiação dos pecados, Jesus como o suposto prefigurado “cordeiro de Deus” não cumpriu esse requisito. A lei exigia que o sangue da vítima sacrificial, o cordeiro, fosse derramado por completo ao redor do altar em chamas, sim a vítima deveria ser consumida pelo fogo sagrado.
O simples fato de matar a vítima, por exemplo, estrangulá-la e não derramar seu sangue, tornava o sacrifício, segundo a Lei, sem valia. Pois o sangue é a vida daquela alma que era oferecida ao deus hebreu.
O deus hebreu se alimentava de vidas, e o sangue, para ele continha a vida da vítima sacrificial.
A farsa do sacrifício de Jesus pode ser facilmente desmontada quando analisamos o que é dito pelos escritores cristãos e repetida pelos crentes de plantão. Tome, por exemplo, o sacrifício que Abrão faria de seu filho, Isaque, a Jeová. Nessa ocasião, Abraão preparou um altar, colocou a vítima, Isaque, sobre ele, e iria golpeá-lo com um cutelo para derramar seu sangue por completo.
Notem que era preciso derramar o sangue, não bastava apenas matar Isaque. Seu sangue deveria ser derramado e seu corpo queimado. Lembre-se de que Abraão levou lenha e pôs sobre o altar construído o que prova o que fora dito acima.
Os cristãos costumam dizer que Abrão representava o deus hebreu e Isaque o Jesus cristão, só que isso não é verdade.
O sacrifício que Abrão ofereceu não seria usado para livrar ninguém de pecado, nem ele e muito menos seu pai, Abrão, ficariam livres de pecado algum. Aquele sacrifício apenas serviria para agrado do deus hebreu só isso. Segundo o conto bíblico, era um teste de lealdade de Abrão para com o deus hebreu e não da vítima, Isaque, para com o deus hebreu, portanto, por mais que se esforcem os cristãos para verem relação entre aquilo que está no Velho Testamento e o que é afirmado no Novo por seus escritores, não se confirma, infelizmente!
Por todas essas questões, o suposto sacrifício de redenção de Jesus não se encaixa nas regras pré- fixadas pela Lei Mosaica. Pelo contrário, ele é uma afronta ao sistema judaico de pecados.
“Quando também em alguém houver pecado, digno do juízo de morte, e for morto, e o pendurares num madeiro. O seu cadáver não permanecerá no madeiro, mas certamente o enterrarás no mesmo dia; porquanto o pendurado é maldito de Deus; assim não contaminarás a tua terra, que o Senhor teu Deus te dá em herança.” Deuteronômio 21:22,23
“Quando um homem tiver cometido um crime que deve ser punido com a morte, e for executado por enforcamento numa árvore, o seu cadáver não poderá ficar ali durante a noite, mas tu o sepultarás no mesmo dia; pois aquele que é pendurado é um objeto de maldição divina. Assim, não contaminarás a terra que o Senhor, teu Deus, te dá por herança.” Deuteronômio 21:22,23
Não há previsão na Lei que alguém pendurado num madeiro ou cruz ou árvore poderia remir pecados de alguém, pelo contrário, o pendurado era maldito de Deus por seus próprios pecados e não de os ter absorvido de alguém. Esse texto de Deuteronômio derruba o mito da crucificação como meio de salvação!
Como os cristãos tiravam suas doutrinas a partir daquilo que liam na Lei de Moisés, Paulo, por exemplo, tenta buscar fundamentos na passagem de Deuteronômio. Contudo, comete uma série de equívocos. Vejam:
“Cristo remiu-nos da maldição da lei, fazendo-se por nós maldição, pois está escrito: Maldito todo aquele que é suspenso no madeiro.” Gálatas 3:13
Infelizmente, o apóstolo inspirado cometeu um dos maiores erros, dentre os muitos que encontramos em suas cartas.
Por que dizemos isso?
Porque a passagem em Deuteronômio se aplica a qualquer pessoa que fosse considerada como pecador ou criminoso pela Lei, o texto de Deuteronômio não tem um sujeito específico, o pendurado no madeiro, portanto, poderia ser diversas pessoas e não um messias, um santo sem pecado, mas o pendurado tinha que ser, justamente, um pecador, um criminoso, e não um justo que seria condenado injustamente e que pagaria pelos erros ou pecados de outros.
Paulo esqueceu também que o pendurado no madeiro já era pecador mesmo antes de ser suspenso. O ato de o pendurar era apenas um castigo ou a aplicação da pena ou sentença pelos seus próprios pecados.
E o ato de remover aquele que era considerado maldito do madeiro não tinha nada que ver com a proximidade de um sábado como o que ocorreu com Jesus. O escritor de Deuteronômio deixa claro que o criminoso pendurado era removido do madeiro ou árvore por se tratar de um maldito e não porque seria pendurado num dia próximo do sábado.
Ademais, devemos atentarmos para o fato de que Jesus foi morto segundo o sistema dos romanos e não conforme a Lei dos hebreus ou judeus.
O pendurado no madeiro não salva a ninguém e nem mesmo a ele. É isso que está assentado em Deuteronômio!
A crucificação de Jesus não tinha nenhuma relação com os sacrifícios estipulados na lei do deus hebreus e ainda que falsamente acreditemos que houvesse, esse sacrifício só poderia beneficiar os próprios hebreus e não povos distintos dos judeus. O povo escolhido eram os hebreus e não os pagãos.
A crucificação naquela cruz era um método dos romanos e não dos judeus ou muito menos do deus hebreu.
Portanto, percebemos claramente que Paulo fez uma interpretação completamente equivocada, o que prova, com efeito, que o inspirado escritor não possuía inspiração alguma. Ele, na verdade, era apenas uma pessoa querendo fundamentar um conceito religioso a partir do uso de textos das escrituras hebraicas de forma descontextualizada.
Segundo a ideia cristã, Jesus era santo e perfeito, não era um pecador, logo não poderia ser comparado àqueles que Deuteronômio indica que poderiam ser pendurados num madeiro.
E como bem observou o professor Fábio Oliveira do Canal “Absurdos Gibíblicos” no youtube, o qual peço data vênia para mencioná-lo, o Deuteronômio nessa passagem refere-se a Lei, a um texto, por assim dizer, jurídico e não um texto profético. Deuteronômio apenas esclarece um conceito da Lei e não aponta para uma determinada pessoa num tempo futuro. O texto dispõe apenas sobre um procedimento que deveria ser observado, caso alguém viesse a ser considerado um criminoso ou violador da lei e merecedor de morte, alguém que, por seus erros, não poderia ser perdoado ou remido pelo sistema de sacrifícios da Lei de Moisés.
Lembre-se de que Pilatos questionou os judeus de eles mesmos julgarem Jesus, porém, eles disseram que sua lei lhes proibia matar alguém. Ou seja, em outras palavras, os judeus representados ali pela turba de fariseus, sacerdotes e saduceus estavam reconhecendo que Jesus seria condenado e julgado segundo o sistema de leis de Roma e não dos judeus. E isso, portanto, tira toda a mística que envolvia o sacrifício de Jesus.
Mas alguém poderia dizer: Moisés ergueu uma serpente no deserto e os que a olhavam, se curavam.
É verdade, entretanto, o texto deixa claro que os que olhavam para serpente somente se curavam, seus pecados não se expiavam, ou eram perdoados. O expiar(absolvição) pecados só se dava por meio de sacrifícios e mediante o derramamento do sangue de uma vítima. A serpente de bronze era vista como objeto de cura e não de salvação. Números 21:4-9
Sem falar que a serpente era tida como um animal impuro e impróprio para sacrifícios. São muitas as comparações errôneas dos escritores cristãos a respeito da pessoa do Jesus cristão. Eles tentavam, de tudo que era forma, cruzar passagens hebraicas com suas doutrinas para ratificá-las. Mas, sem sucesso, quando as analisamos de perto.
“Então o Senhor Deus disse à serpente: Porque fizeste isso, serás maldita entre todos os animais e feras dos campos; andarás de rastos sobre o teu ventre e comerás o pó todos os dias de tua vida.” Gênesis 3:14
Perceberam, as serpentes segundo o deus bíblico eram os animais mais impuros de todos, eram tidos como malditos. Portanto, seria impróprio para sacrifícios. Quer dizer, Paulo errou feio quando comparou Cristo à serpente do deserto ou a forma como ele seria erguido na cruz. As duas situações são completamente diversas e sem qualquer relação. A serpente curava apenas hebreus, enquanto o Jesus pendurado não curaria, mas salvaria hebreu e não hebreu.
Sem falar que o próprio deus hebreu também errou quando disse que a serpente de metal serviria para cura, já que ele mesmo decretou milhares de anos atrás que esse animal seria maldito.
Mas o que teria levado o deus todo - sábio a cometer um equívoco desse?
Primeiro motivo: porque, simplesmente, não foi nenhum deus que escreveu essas estórias, foram os hebreus que as criaram. Elas eram fruto de sua imaginação;
Segundo motivo: os hebreus a colocaram no Éden porque a serpente era símbolo de cura, elas eram vistas nas muitas mitologias espalhadas pelo mundo como um animal que representava cura, longevidade, astúcia e sabedoria. Foi por isso, que ela aparece não só no Êxodo, mas também no Gênesis como o animal que abre os olhos de Eva para o despertar do conhecimento do bem e do mal. E no Êxodo, ela aparece como curando!
No próprio Egito, de onde o Êxodo nos diz que os hebreus vieram da condição de escravos, se acreditava que a serpente era uma deusa que poderia não só curar, mas também matar.
A serpente no Éden se encontra próxima à árvore do bem e do mal e à da que poderia dar vida eterna. Tudo na Bíblia tem viés mitológico, basta que olhemos ao redor daquilo que nos é passado em suas passagens.
Recapitulemos: Jesus não poderia ser considerado um sacrifício aceitável pelo deus hebreu, porque sacrifícios humanos nunca foram usados para tirar pecados de alguém na lei hebraica, pelo menos, nos textos que possuímos atualmente. Os sacrifícios eram realizados por um sacerdote e num altar em chamas entendido como sagrado, onde essa vítima era consumida pelo fogo, a vítima deveria ser morta antes de ser sacrificada, ela não ficava agonizando até morrer, como se deu com Jesus. Os animais que eram usados nos sacrifícios, quebravam-lhe a nuca e determinadas partes eram separadas uma das outras. Nenhum osso de Jesus foi quebrado.
A vítima sacrificial não era tida como algo maldito em todo o ritual judaico, mas Jesus, ao ser erguido numa cruz ou madeiro, se tornou maldito, segundo o que preceituava a Lei e comparado de forma equivocada por Paulo. E os que se beneficiavam dos sacrifícios reconheciam-se como pecadores, ou seja, os sacrifícios tinham que partir de quem se reconhecia como pecador.
Os supostos benefícios do sacrifício no ritual hebreu eram para os pecadores que ofertavam voluntariamente suas vítimas à sua divindade. Estes benefícios não eram impostos de forma compulsória!
E se adotarmos a ideia de que Jesus era o próprio deus hebreu, através da trindade, aí, é que toda a crucificação não se sustenta.
Essa ideia de salvador vinha de encontro a todo o sistema de pecados elaborado pela Lei dos antigos hebreus.
Foi por isso que os sacerdotes, escribas e fariseus que viviam desse sistema de pecados, não acharam nada legal, um nazareno sair espalhando que não se devia observar os sábados, que o batismo em águas libertava as pessoas de seus pecados, ao invés dos sacrifícios ofertados no templo. Aprovar essa pregação era o mesmo que acabar com o ganha pão deles. Aceitar eles que um homem se ofereceu uma vez por todas como sacrifício definitivo em troca de muitos era o mesmo que decretar o fim do sistema de sacrifícios no templo, fazendo com que todos os rituais se tornassem não mais necessários e transformava o templo e o sacerdócio perpétuo tidos como sagrados numa inutilidade.
Criar na mente das pessoas a ideia de que o templo era a casa do deus judeu fazia com que elas se sentissem obrigadas a peregrinar até Jerusalém, onde ali, seriam facilmente extorquidas por sacerdotes e comerciantes.
A ideia dos cristãos não só desagradava a classe sacerdotal, mas também a dos comerciantes. Muitos judeus quando se dirigiam ao templo de Jerusalém para ofertar seus sacrifícios, muitas das vezes, não levavam animais, mas os compravam das mãos dos cambistas(comerciantes). Esses se aproveitavam e vendiam por preços exorbitantes muitos desses animais. Esse sistema enriquecia tanto estes quanto ao sumo sacerdote e os que de alguma forma participavam na direção dos holocaustos.
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