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PARTE 7
Os eventos ocorridos durante a ressurreição
“E crucificaram com ele dois salteadores, um à sua direita, e outro à esquerda. E cumprindo-se a escritura que diz: E com os malfeitores foi contado.” Marcos 15:27,28
“E da mesma maneira também os principais dos sacerdotes, com os escribas, diziam uns para os outros, zombando: Salvou os outros, e não pode salvar-se a si mesmo. O Cristo, o Rei de Israel, desça agora da cruz, para que o vejamos e acreditemos. Também os que com ele foram crucificados o injuriavam.” Marcos 15:31,32
“E o mesmo lhe lançaram também em rosto os salteadores que com ele estavam crucificados.” Mateus 27:44
“E, levando ele às costas a sua cruz, saiu para o lugar chamado Caveira, que em hebraico se chama Gólgota. Onde o crucificaram, e com ele outros dois, um de cada lado, e Jesus no meio.” João 19:17,18
“ Então um dos criminosos que estava pendurado começou a insultá-lo, dizendo: “Você não é o Cristo? Salve a si mesmo e também a nós!” Em resposta, o outro o censurou, dizendo: “Você não tem nenhum temor de Deus, agora que recebeu o mesmo julgamento? E no nosso caso isso é justo, pois estamos recebendo o que merecemos pelas coisas que fizemos. Mas este homem não fez nada errado.” Então ele disse: “Jesus, lembre-se de mim quando entrar no seu Reino.” E ele lhe disse: “Em verdade, eu lhe digo hoje: Você estará comigo no Paraíso.” Lucas 23:39-43
Nos fragmentos de textos acima, os evangelistas divergem quanto ao comportamento dos malfeitores pendurados com Jesus. Nos relatos trazidos por Mateus, Marcos e João, os ladrões(salteadores) zombam da condição de Jesus, do mesmo modo que os fariseus e sacerdotes que ali se encontram. Porém, Lucas nos apresenta uma nova narrativa. Nesta agora, a zombaria teria partido de um dos dois bandidos e não de ambos.
Os crentes tentam proteger a autenticidade dos relatos, afirmam que os evangelistas apenas usam de estilos literários diferentes, ou melhor, cada um tem uma forma específica de descrever os eventos que presenciaram. Os escritores evangélicos descreveriam, assim, aquelas cenas dando destaque aquilo que cada um considerava relevante.
Outros crentes, hoje já admitem que houve erros, mas que estes não prejudicam a mensagem de salvação.
Ainda outros dizem que mesmo que tenham ocorrido erros, estes apenas refletem que a palavra transmitida era santa, mas aqueles que foram usados para as transcreverem, eram pessoas imperfeitas, portanto, sujeitas aos erros aqui apresentados.
O problema de todas essas defesas apresentadas pelos crentes é que esquecem-se eles do fato de a Bíblia dizer ser ela a palavra toda inspirada de deus e que fora transmitida por espírito santo. A Bíblia, segunda ela mesma, teria sido toda escrita sob a supervisão direta de deus. Logo, não tem sentido se afirmar ou mesmo se admitir que esse deus falhou ao transmitir sua mensagem, ou ainda que tenha transmitido sua mensagem através de pessoas que cometeriam tantos erros a ponto de pairar dúvidas sobre a credibilidade de sua dita palavra sagrada.
E nem se pode também admitir que os escritores bíblicos tenham usado de um estilo próprio de escrita ou de um diferente modo de transmissão de mensagem, sob o pretexto de suas mensagens serem dirigidas a diferentes públicos, isso porque, as escrituras não sofreram interpretações de terceiros, consoante as seguintes declarações:“ Assim, temos a palavra profética ainda mais confirmada, e vocês fazem bem em prestar atenção a ela, como a uma lâmpada que brilha em lugar escuro (até que amanheça o dia e se levante a estrela da alva), no coração de vocês. Pois, acima de tudo, vocês sabem que nenhuma profecia das Escrituras se origina de interpretação pessoal. Porque a profecia nunca foi produzida pela vontade do homem, mas os homens falaram da parte de Deus conforme eram movidos por espírito santo.” 2 Pedro 1:19-21
“ Toda a Escritura é divinamente inspirada, e proveitosa para ensinar, para redarguir, para corrigir, para instruir em justiça; Para que o homem de Deus seja perfeito, e perfeitamente instruído para toda a boa obra.“ 2 Timóteo 3:16,17
Portanto, não cabe aqui dizer que os escritores se utilizaram de estilos próprios, pois a obra não era deles, mas do deus que eles mesmos atestaram que os guiava em suas declarações.
Agora passemos para o mais grave erro encontrado ao compararmos as narrativas dos 4 evangelistas nessa questão.
O criminoso arrependido censura o outro e pede o seguinte:“Jesus, lembre-se de mim quando entrar no seu Reino.” E ele lhe disse: “Em verdade, eu lhe digo hoje: Você estará comigo no Paraíso.” Lucas 23:43
Que reino é esse que o ladrão pede para entrar? Onde ele ficaria? E quem foi que falou para ele sobre esse reino e paraíso?
A grande maioria das religiões cristãs ensinam que o reino ficaria no céu, embora o anjo Gabriel, quando apareceu a “virgem perpétua”, Maria, disse que a criança por nascer, Jesus, reinaria sobre a casa de Davi, para todo o sempre, o que significava que esse reino não seria no céu, mas na própria terra e sobre o povo judeu.
Não há nenhuma inferência na mensagem transmitida por Gabriel, o anjo, que dê a entender que o menino, que nasceria, reinaria sobre um reino celestial ou mesmo simbólico.
O anjo foi taxativo em dizer que o reino seria literal e suas ações seriam voltadas ao povo de Israel.
As inferências que nos levam a afirmar isso é que vemos citações do tipo: casa de Jacó, juramento a nosso pai Abraão, os pecados de seu povo(Israel), casa de Davi, os profetas desde o início dos tempos, Deus dará o trono de seu pai, Davi e seu reino não terá fim. Todas essas referências estão nitidamente e exclusivamente ligadas ao povo de Israel e não ao mundo como sendo o reino sobre o qual Jesus reinaria de forma invisível ou mesmo simbólica.
O texto é para os judeus e somente para estes.
Para dar legitimidade a esse suposto messias por nascer, os evangelistas descrevem até uma genealogia onde coloca Jesus como sendo descendente simbólico de Davi(simbólico porque Jesus nunca teve sangue davídico, pois, segundo o conto bíblico, ele teria sido gerado por obra de espírito santo e não por meio de uma conjunção carnal entre Maria e José).
A promessa de um reino eterno sobre a casa de Davi havia sido feita há centenas de anos, segundo a Bíblia, pelo deus hebreu a seu servo Davi.
“Quando teus dias forem completos, e vieres a dormir com teus pais, então farei levantar depois de ti um dentre a tua descendência, o qual sairá das tuas entranhas, e estabelecerei o seu reino. Este edificará uma casa ao meu nome, e confirmarei o trono do seu reino para sempre. Eu lhe serei por pai, e ele me será por filho; e, se vier a transgredir, castigá-lo-ei com vara de homens, e com açoites de filhos de homens. Mas a minha benignidade não se apartará dele; como a tirei de Saul, a quem tirei de diante de ti. Porém a tua casa e o teu reino serão firmados para sempre diante de ti; teu trono será firme para sempre.” 2 Samuel 7:12-16
As palavras do profeta Natã acima revelam que, após a morte de Davi, surgiria um descendente que construiria um templo para o deus hebreu, esse descendente foi Salomão e mesmo que esse descendente viesse a pecar ou errar a benção do deus hebreu não se apartaria dele.
O reino de Davi, conforme declarações do próprio deus que nunca mente(?), seria passado de descendente a descendente seu, se perpetuando para sempre entre os de sua casa. O reino de Davi, portanto, nunca se findaria ou seria substituído por outro membro oriundo de outras tribos israelitas. Os descendentes reais oriundos de Davi seriam carnais, teriam seu sangue correndo em suas veias.
“E quem há como o teu povo, como Israel, gente única na terra, a quem Deus foi resgatar para seu povo, para fazer-te nome, e para fazer-vos estas grandes e terríveis coisas à tua terra, diante do teu povo, que tu resgataste do Egito, desterrando as nações e a seus deuses? E confirmaste a teu povo Israel por teu povo para sempre, e tu, Senhor, te fizeste o seu Deus.” 2 Samuel 7:23,24
Uma outra mentira que por essas palavras vemos que cai por terra é a de que os judeus foram excluídos do pacto eterno do deus hebreu, como é dito pelos cristãos.
Os judeus nunca foram excluídos do antigo pacto, pois o pacto é a própria lei dos judeus e esta, para seu deus e seu povo, tem caráter perpétuo. Os judeus foram escolhidos como nação seleta entre as nações. Não existe nada de novo pacto firmado entre Jeová e os de outras nações com a exclusão dos judeus por terem rejeitado o messias cristão.
Jesus ainda no evangelho de João desmente toda a declaração tanto do anjo Gabriel, quanto a das escrituras hebraicas vistas acima, porque quando indagado por Pilatos, diz que seu reino não era ou não fazia parte desse mundo. Assim, o reino de Jesus não seria um reino terrestre e nem representaria o reino de Davi, mas um reino espiritual.
Jesus respondeu: “Meu Reino não faz parte deste mundo. Se meu Reino fizesse parte deste mundo, meus assistentes teriam lutado para que eu não fosse entregue aos judeus. Mas o fato é que o meu Reino não é daqui.” João 18:36
Só que vemos novamente contradições nas declarações de Jesus, pois, Pedro quis sim lutar para que Jesus não fosse entregue, acontece que esse o havia impedido de lutar.
Percebam que as ideias transmitidas pelos evangelistas são contraditórias. Um entende as citações de reino eterno como literal, enquanto que outro, como espiritual.
Uma outra pequena parte das religiões, por sua vez, ensina que o reino seria no céu, mas o paraíso seria na Terra.
Algumas perguntas merecem ser suscitadas: Como um criminoso arrependido confessaria fé e demonstraria ter plena certeza da realidade num reino que nem os próprios discípulos de Jesus entendiam? Que arrependimento é esse que dar entendimento até de coisas ainda não reveladas àqueles que deveriam tê-lo?
Poderíamos imaginar que, em certo momento de sua vida, esse bandido tenha tido algum contato com a mensagem propagada por Jesus, isso explicaria a princípio sua repentina conversão.
Ocorre, entretanto, que esse ladrão nunca teve esse contato, notamos isso pelo diálogo. E mesmo que consideremos forçadamente a possibilidade de este ladrão ter tido, de alguma forma, contato com os ensinos de Jesus, isso não explicaria, porém, como um ladrão obteve um conhecimento tão profundo e exato das verdades de Jesus, sendo que os próprios discípulos e aqueles que o acompanhavam não tinham?
Notem que o ladrão pede para que Jesus se lembre dele quando entrar no reino, mas Jesus estava na cruz e em breve estaria morto junto com o ladrão suplicante.
Portanto, a declaração do malfeitor arrependido só teria sentido se o ladrão soubesse que o reino no qual Jesus entraria ficasse no céu, e não na Terra. E isso demonstra o grande equívoco por parte do evangelista, Lucas. Pois, como já dito, os discípulos de Jesus nem sabiam que este ressuscitaria e nem imaginavam essa possibilidade. Eles mesmos ainda criam que Jesus seria aquele que estabeleceria o reino a Israel e os livraria do domínio romano. Para os discípulos, Jesus era o messias que reinaria na terra. Vejam os fragmentos abaixo de algumas declarações dos discípulos, antes e depois da crucificação.
“Mas nós esperávamos que esse homem fosse aquele que ia livrar Israel. E além de tudo isso, este já é o terceiro dia desde que essas coisas ocorreram.” Lucas 24: 21
“Porque eles ainda não entendiam a passagem das Escrituras que dizia que ele tinha de ser levantado dentre os mortos. Assim, os discípulos voltaram para casa.” João 20: 9
Na passagem acima notamos um equívoco sem tamanho do evangelista João. Não há declaração nenhuma nas escrituras hebraicas de que o Messias se levantaria dentre os mortos.
É obvio que as diferenças dos evangelhos não ficam restritas às narrativas, mas também ao teor das mensagens transmitidas em cada um.
Os evangelhos foram escritos por diferentes pessoas em lugares e épocas diferentes. E a visão das pessoas mudam com o lugar e o tempo.
Por isso que notamos os evangelistas passarem diferentes imagens da mensagem e da pessoa de Jesus.
Observe que não tem sentido Lucas e João dizerem que os discípulos ainda imaginavam que Jesus era apenas um homem que livraria e restabeleceria o reino. Pois, temos, dentro do próprio texto, declarações de Pedro e de outras pessoas reconhecendo Jesus como filho do deus Altíssimo. E afirmando ser ele o Cristo de deus.
Como os evangelhos foram sendo produzidos ao longo de anos, é fácil entender porque se deu isso. As comunidades cristãs com o passar dos anos, na verdade, foram amadurecendo a ideia de que o reino não poderia ser literal, porque anos a fios iam se passando e nada das ideias proféticas de Jesus e muito menos das escrituras se cumprirem, logo, resolveram dar um novo sentido a elas, ou seja, passaram a interpretá-las em parte como simbólicas e espirituais.
Muitos crentes afirmam que os judeus não entenderam o sentido das suas escrituras, pois, eles ficaram na expectativa da vinda de um rei militar, guerreiro como Davi e não num personagem pacífico como Jesus.
Entretanto, isso vai de encontro a tudo que há de mais lógico, pois as escrituras apontavam os judeus como os únicos beneficiários da vinda do messias. Não tem base alguma, afirmar-se que os cristãos teriam o real sentido das escrituras e não os judeus.
Se os judeus não tiveram o real sentido de suas próprias escrituras, teremos que admitir que o deus judeus enganou seu povo, porquanto foi ele que disse que o messias seria um reflexo do valente Davi e não um curandeiro pacifista.
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